as melhores coisas do mundo

Quando eu estava no início da vida adulta, comecei a escrever uma lista com as melhores coisas do mundo. Uma particular coletânea de momentos simples que me faziam quebrar o teto de mim mesmo, esquecer tudo mais que existe e ser, por alguns instantes, feliz.

Por muitos anos mantive essa lista, revisitando-a de tempos em tempos. Adicionando novas migalhas à medida em que a vida as deixava cair pelo caminho. Removendo pequenos pedaços de sonho que o amargor da vida adulta provara não passarem de inocências de quem tem todo o tempo do mundo descansando no bolso de um jeans encardido.

Gosto de pensar que a lista amadureceu junto a mim. Graduamos finalmente, trabalhamos duro, amamos intensamente, choramos com a mesma amplitude que amamos, mudamos por fora e por dentro. Fomos e voltamos, e a cada vez que voltamos estávamos mais longe.

A lista, que começou como um trabalho bobo de faculdade, aos poucos se tornou um reflexo de quem sou. Todos os dias acordamos, olhamo-nos no espelho, e ficamos espantados com rugas a mais e fios de cabelo a menos, que denunciam sutilmente que aquele bolso já está um pouco mais vazio. Somos capazes de fechar os olhos, olhar para trás e, sorrindo, apreciar o caminho que nos trouxe até aqui. Também uma lágrima cai.

A lista não possui qualquer tipo de ordenação. Essa ausência de organização não só reflete meu próprio caos, como também me ajudou a enxergar mais longe no horizonte do meu corpo e alma. Como pode algo tão intenso e importante como estar com a família estar na mesma página que a banalidade das folhas secas caindo das árvores do parque no outono? Aos poucos entendi que a felicidade é uma força profundamente subjetiva, e que pode vir de várias cores e maneiras diferentes. São coisas que conseguem, como um toque de mágica, parar o tempo e fazer desaparecer todos os problemas do meu mundo. É o sentir-se completo por alguns instantes.

Finalmente, de longe o maior benefício da minha lista foi me ensinar a apreciar ao máximo cada um dos seus itens. São, em palavra simples mas de coração, lindos. Cada um à sua maneira.

Esse ano completo meus trinta anos. Foi o ano em que me vesti às pressas em uma noite de domingo e corri para a rua para realizar meu sonho de sentir pela primeira vez, maravilhado como uma criança em manhã de natal, a neve caindo sobre meu rosto. E na manhã seguinte, vi o mundo em preto em branco pela janela do trem. Isso é lindo. Estará eternamente guardado na memória naquela caixinha em que se guardam as coisas mais especiais, e foi a minha mais recente adição à lista, no momento em que escrevia este texto.

Também foi o ano em que me abstive de ligar para minha família em uma outra noite qualquer, pois não queria que eles vissem meus olhos inchados e vermelhos de saudade. E isso também é lindo. É uma espécie de tristeza intensa, que só pode ser sentida pois o item ‘estar perto da família’ é uma das melhores coisas do mundo.

Isso faz com que eu me sinta humano. Vivo. E isso é a vida, afinal de contas. Abraçar, mas também se despedir. Tropeçar e se machucar, mas também cair às gargalhadas. A vida é construir uma lista com as alegrias das melhores coisas do mundo, mas é também chorar quando se não as tem. A vida é viver.


"You can't always get what you want
But if you try sometimes, you'll find
You get what you need"

― The Rolling Stones (You Can't Always Get What You Want)