a light that never goes out

Todo menino um dia vira adolescente. Todo garoto adolescente um dia vira rapaz. Quando pequenos, enfrentamos dragões e ogros, a caminho do castelo onde está trancafiada, no último andar da torre mais alta, aquela menina tão especial. No dia seguinte, na escola, se esconder por baixo da mesa, e, junto aos outros meninos, compartilhar os feitos heroicos do resgate, assim como a identidade secreta de cada uma dessas princesas.

Durante o crescer, à medida em que a voz fica grossa e os ombros mais largos, deixamos para trás toda a inocência dos tempos de infância. A realidade, fria como sempre, toma o lugar da fantasia. Nada mais é como era antes. As meninas, não mais princesas. Os monstros de antigamente, não mais assustadores. Os medos agora são outros. As vontades já não são mais as mesmas. Aos poucos, os sonhos vão se solidificando, até não passarem de objetivos.

Alguns anos a mais, e barba. Malas prontas para a mudança: faculdade. Independência, afinal! Sim, ela é incrível, mas, até que as raízes estejam bem firmes em solo novo, dói. A partir de agora, a juventude sem planos e descomplicada não existe mais.

E, no final dessa tão falada metamorfose, somos,  mais uma vez, meninos. Mas, agora, enquanto alguns preferem continuar apenas com a realidade, outros encontram a espada e o escudo que usaram quando pequenos. Recriam todos os sonhos. Encontram uma princesa por quem lutar. Conhecem os monstros. E partem, em seus cavalos, para a viagem de milhas e milhas, enfrentando dragões e ogros, a caminho do castelo onde está trancafiada, no último andar da torre mais alta, aquela menina tão especial.


"Agora eu era o herói,
e o meu cavalo só falava inglês.
A noiva do cowboy
era você além das outras três.
Eu enfrentava os batalhões,
os alemães e seus canhões.
Guardava o meu bodoque
e ensaiava um rock para as matinês."

― Chico Buarque (João e Maria)